28 de abr. de 2009

Sobre honestidade e censura

Quando comecei esta página pensei em colocar aqui todos os textos que escrevi e que, por alguma razão guardei. Só que eu o fiz de maneira aleatória. A maioria dos textos não está na ordem em que foram escritos. Nem estavam todos, até hoje. E por que não estavam todos? Porque não conseguia resistir à auto-censura. Quando leio as coisas que tenho guardadas sempre as vejo como arrebatadas demais, apaixonadas demais, tolas demais, exageradas demais. Mas será que tenho o direito de, uma vez tendo decidido colocar essa fase de escrita em exposição, negar agora a verdade que ela carrega? Que eu era imaturo demais no labor das letras, que eu não tinha limites para os sentimentos que esses escritos carregavam, que eu os achava melhores do que de fato são. Mas seriam eles menos uma parte de mim só porque agora olho para eles com o olhar de quem viveu um pouco mais, estudou um pouco mais, acomodou paixões, sedimentou pensares, compreendeu sofrimentos e angústias da juventude que não poderiam ser compreendidos naquele momento em que neles esteve mergulhado? Creio que não. Tenho que admitir que não.

Talvez pouco do que sou hoje existiria não fossem todas aquelas emoções desmedidas, todos aqueles pensamentos que me fizeram um prolixo misturador de palavras. Porque estando dentro do turbilhão, não havia como firmar pé, por-se ereto e caminhar firme, com todas as certezas nas mãos. E, no entanto, não é assim que caminhamos quando somos jovens? Com todas as angustiantes certezas nas mãos, mas que esvaem-se como poeira entre os dedos? Nada fica, a não ser as angústias. Que também se aquietam, se amalgamam e então se mostram no seu devido tamanho.

Então, por que julgar esses instantâneos de juventude? Não seria mais honesto deixá-los assim, à mostra, porque descrevem uma parte da verdade do que eu sou? Não somos a soma de todas as nossas experiências? Por que envergonhar-se delas? Entretanto, é isso que me vem agora, como se eu quisesse que aquele garoto de 20 anos soubesse o que somente mais 20 anos puderam ensinar. Não é muito justo. Aquele era outro, ainda que fosse o mesmo que eu sou hoje.

Engraçado: não me casei, não tive filhos, e neste exato instante faço comigo mesmo o que todos os pais juram que jamais farão com seus filhos - repito os mesmos erros e cobro de mim mesmo recuado em 20 anos a mesma 'maturidade' que só agora vislumbro (a conquista está ainda longe - o que há é ainda apenas um vislumbre). Aliás, alguém aí sabe me dizer o que é 'maturidade'? Quando descobrirem, por favor, me expliquem.

Não, não posso ser pai de mim mesmo. É preciso deixar o filho crescer, quebrar a cabeça, dar murros em ponta de faca. Até porque - ora vejam! - não sou um bom exemplo de pai: ainda assisto desenhos, leio gibis, compro carrinhos (que adultamente chamo de 'filmes de animação', 'graphic novels' e 'miniaturas em escala', respectivamente). Cobro de mim jovem uma postura adulta e hoje sou ainda uma risível criança por dentro!

Tudo isso para tentar amassar coragem bastante para publicar aqui esses disparates juvenis. Ou, mais, para justificá-los. Entre a honestidade e a censura, e em favor do respeito à liberdade de cada um, melhor a honestidade.

2 comentários:

  1. Quanto mais leio seus textos, mas acho que temos coisas em comum, ou então que os seres humanos são todos iguais e possuem as mesmas angústias.
    Sinto que passei muito rápido pela fase pós-adolescência. Sei que tenho apenas 23 anos, mas quando tinha 16, 18, enquanto todos saiam, dançavam, bebiam etc., eu estudava e estudava tentando garantir algum futuro. Está certo que faço jornalismo, mas o que aprendi no cursinho e na faculdade vale muito... para toda a vida.
    Enfim, não vou me alongar muito, se não não conseguirei ler muitos textos seus...
    Mas que há uma eterna criança em nós que nunca morrerá, isso há!

    Beijos

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  2. Pense que estás trazendo teus textos para respirar fora da gaveta... Não julgues o Flávio-escritor de tantos anos atrás - aprenda com ele. E um blog é uma ótima ferramenta para isso - compartilhar textos, ouvir opiniões, aprender.

    Obrigado pela visita ao 'Locutório' - listei o teu 'Andarilho' por lá!

    Um grande abraço.

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