26 de abr. de 2009

Noite de Inverno


Não há espelhos em meu quarto,
Apenas a alvura das geleiras.
Tenho as mãos úmidas e frias
- Inverno das sensações -
E o coração em estado letárgico
- Inverno das emoções -
No branco glacial das paredes que me cercam
Me inverto; me encolho, me encosto no canto
E escôo por entre o emaranhado de roupas que me cobrem
Me esquivo das gotas de tempo que me torturam,
À hora morta da noite invernal
Trago os lábios secos e quebradiços
- Inverno das palavras -
Assim como a pele perdeu seu viço e jaz,
Uma cobertura tosca, sobre minha alma
Já não tenho corpo e minhas mãos em garra
Abraçam inutilmente meus pés,
Tentando segurar o fio último de realidade
Flutuo no espaço vazio da minha ausência de afeto
- Inverno das relações -
Estou a estrela distante morta de saudade
Azulada, minha matéria explode
Me concentro energia dispersa
- Inverno do Universo -
Todo universo do caos do espaço em que me incluo
Todo caos do universo incluso em mim
Perco minha alma no mar da eternidade
Pelas paredes brancas, imaculadas,
Sequer uma gota de sangue
Estou indelevelmente impresso na inexistência
- Inverno da realidade -

- Na perdida retórica das estações meu espírito aguarda a primavera para florescer -

Flávio Moreira
14JUL88

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