27 de abr. de 2009

Sismos

Eu deveria começar este texto falando de alguma coisa, qualquer coisa, só para saber até onde conseguiria chegar andando neste vazio de idéias que agora me ocorre. Gostaria de poder expressar através de um meio de comunicação inteligível o que de mais profundo e sísmico acontece no meu interior. Se falo interior, sem determinar exatamente que ponto difuso é este dentro do meu corpo, falo justamente por não saber se o que sinto vem do coração, do cérebro, da alma ou de qualquer outro lugar que possa gerar em um ser humano a avalanche de sensações e emoções que percebo em mim. E, também, se digo sísmico, o digo porque sinto que todo esse volume de sentimento surge de forma avassaladora, como se a terra novamente revolvesse suas entranhas, para acomodar-se dentro de suas transformações geológicas. Sinto-me como a terra: movimentação imprecisa das placas tectônicas do meu íntimo, que fazem com que todo conjunto do que sou novamente se transforme e se acomode dentro de todas as perspectivas que surgem destas transformações. Como a terra, o que sou não julga maniqueistamente essas modificações. Sinto-as, apenas. Não há, dentro delas, qualquer coisa que possa ser qualificada como boa ou ruim. São nuances, variações de um mesmo tema: o ser que sou e que se forma e que caminha, ainda que vacilante, em direção ao conhecimento de si mesmo. Pode parecer simplório ou piegas dito deste jeito, mas acho que esta maneira simples de dizê-lo é a mais verdadeira, porque não necessita de fantasias filosóficas ou sutilezas literatas-acadêmicas para existir. Dispo-me das fantasias para alcançar o mais interno em mim. Então me abro para tudo o que está aqui dentro e que eu ainda não sei o que é, nem de onde vem (creio não ser importante saber o que não é essencial). Por ignorância tenho a sede desesperada de entender tudo através da racionalidade das palavras, onde busco recursos semânticos que considere suficientes para exprimir tudo. Mas o tudo que sinto se mostra cada vez menos traduzível. Fôra eu um contador de estórias e talvez pudesse inventar fábulas que descrevessem tudo. Mas eu estaria vestindo fantasias para explicar o que já não carece de ser explicado, porque se deve apenas sentir. Perdoa-me se misturo as idéias, que me fluem de maneira pouco ordenada. É que é tanto o que eu queria dizer e tão limitada a minha capacidade de fazê-lo que eu não vejo outra alternativa: neste momento me abro para que você leia em mim o que sinto. E o que sinto está dentro do que sou e o que sou está dentro deste corpo. Assim, para você me conhecer, me desvencilho do medo de me dar e me ofereço inteiro a você. Porque já não posso mais ser pedaço, dou ao mundo o que sou.

Flávio Moreira
28OUT92
21:50h

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