19 de out. de 2009

Saudade

Porque não há razão em estar vivo
Se não há teus olhos onde perder-me
Se não há teus braços onde encontrar-me
Se não há teus lábios onde fruir-me

A vida, sem ti, é uma ruidosa monotonia
Contigo, silêncios em forma de sinfonia
Sem ti, viver é passar os dias como nuvens sem propósito
Contigo, revoada de pássaros ao fim da tarde:

Um espetáculo de contemplação e contentamento
Um coração aquecido em sentimento
Um ardor leve e rubro no peito ofegante
Um afago de fibras, peles e pelos.

Contigo, instantâneos em preto e branco de Cartier-Bresson
Sem ti, imagens banais, ainda que coloridas.
Contigo, campos de trigo e jardins de lavanda
Sem ti, pasto seco e aridez de pedra.

Sem ti, é estar sempre preso ao solo
Contigo, é alçar vôos de condor.
Sem ti, é a insipidez da água
Contigo, é a miríade de sabores do vinho.

Contigo, inspiração e enlevo
Sem ti, eterna página em branco.

Porque só há razão em estar vivo
Se há teus olhos onde perder-me
Se há teus braços onde encontrar-me
Se há teus lábios onde fruir-me.