14 de jan. de 2010

Testamento

Se eu morrer amanhã...
Peço que não chorem por meu corpo
- Carne fria que se esvairá sob a terra -
Mas que antes do rigor mortis, dêem
Meus olhos a quem ame poesia
E deseje saber a cor do amanhecer,
E meu coração a quem saiba amar
Certamente melhor do que eu jamais consegui
Já os rins (matemáticos)... dêem-nos à Ciência.
Depois de tantos cálculos em tantos anos...

Se eu morrer amanhã...
E minha casa subitamente ficar vazia
Não disputem meus parcos bens:
Dêem-nos à caridade, se algo ali prestar.
Mas se alguém uma lembrança quiser
Retire aquilo que mais justificar
Minha permanência em sua memória.

Se eu morrer amanhã...
Não chorem, não poderá ser dia de tristeza.
Se parti foi porque vivi o tanto que me cabia
E minha estrada aqui, enfim, terminou.
Dêem uma festa, leiam poemas, cantem e riam.
Contem piadas e tomem bastante café. Juntem as alegrias
E divirtam-se como se não houvesse amanhã

Se eu morrer amanhã...
Por favor, continuem vivendo.
Sonhem, amem, realizem-se.
Vocês viverem o melhor de suas vidas
Será minha melhor despedida
Se eu morrer amanhã.

(17h31)

12 de jan. de 2010

Cacto

Gritar! Não mais...

Se em silêncio sementes sulcam caminhos
Para o campo aberto abastado de sonhos,
Adormecido na terra está o verbo.

Plantado em nada, tudo rasga o chão duro
Em que se alternam - altivos - atávicos fantasmas,
E brotam flores rubras de angústia e fogo.

Ardem efêmeras palavras e ligeiros sentires.
E fenecem ambos no causticante verão

Calar, apenas...