24 de ago. de 2009

Enigma

Não vejo o arco de luz no céu
Somente as sombras e a luz baça
Não vejo a lua e seu brilho pálido
Como pálidas estão minhas faces

Sob a cálida luz do entardecer
Vejo no ocaso de meu rosto
Verdades escritas a fogo brando e constante
Como marcas de arame farpado
Nas estacas das cercas muito antigas

Verdades escritas em uma língua
Há muito esquecida e soterrada
Sob séculos de pó e tristezas
Repisadas ao infinito por pés
De caminhantes solitários

Vejo partidas de meus sentimentos
Olvidados em olhos
Nos quais não me reconheço
Em amores que se foram
Sem nunca terem sido

Vejo augúrios e presságios
Que a sibila, muda, desconhece
E que o vidente, cego, mal vislumbra

São páginas escritas
Em carcomidos alfarrábios
Com letras gastas em páginas
Amareladas de tempo e lágrimas

São traços apagados de mãos
Usadas e abusadas pela vida
São olhos opacos por eras
São músculos exaustos
De um coração que não bate - sussurra...

E o que dizem, não entendo:
São o mistério sem pistas
São os sabores ocultos
São as cores não vistas
São os sons inauditos
São as texturas impalpáveis
São os odores indistintos
São o sangue, a lágrima
O suor, a saliva, o sêmen
A virilidade do homem,
A maciez da mulher,
O seio terno da fêmea,
O peito rijo do macho,
O vigor da juventude esquecida...

São um fantasma
De mim em mim e fora de mim

São as vozes do fim.

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