10 de ago. de 2009

Ar


Arde o peito quando o ar falta
E a dor incendeia, se irradia
E cada músculo queima em agonia
Respirar... sorver o ar com gana
E prosseguir
Como se a sobrevivência do mundo
Dependesse unicamente
Desse gesto desesperado

Mas é preciso pensar, juntar
Todos esses membros desconexos
Mortos, pela fadiga entorpecidos
Que se movem por si, sem rumo
Donos cada um de um destino

Cada espasmo é um grito em silêncio
Cada músculo retesado é um rito
De passagem para um corpo esquecido
Que se quer perder nesse meio denso
Nessa atmosfera irrespirável, sólida

Ah, perder-se agora e abandonar-se
À derrota fácil da inércia
Cessar todo movimento, toda vida
Precipitar-se sólido, largar-se ao fundo
E olhar o mundo pelo filtro claro
Dessa massa informe que o circunda

Cores, brilhos, luzes que vão se apagando
Cessa o hálito, ouve-se o baque surdo
E o mundo enfim escurece em silêncio
Mentira... os sons são ganchos ocultos
Que arrancam a mente do torpor, do cansaço
Do corpo que não mais suporta a dor

Os pulmões urram puxando em desespero
Um ar que não parece nunca ser bastante
Mas que bastar precisa para seguir adiante
Vencer o obstáculo espesso, a resistência fria
Buscar no ventre, nas entranhas, na carne mais dura
A vontade de sair vitorioso dessa luta

Hoje não deu, não havia ar e energia para a refrega
Amanhã, quem sabe... amanhã
Amanhã nos encontramos de novo
Para mais um embate em que a dor, a extenuação, o estupor
Dirão no fim quem, de fato, venceu: a piscina ou eu.

Um comentário:

  1. Oi Andarilho... belo texto... O abismo mudou de endereço faz tempo. Desde que voltei da frança. Aqui vai o endereço: http://abimedesoiseaux.blogspot.com/

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