Quanto mais compreendemos a
situação do outro, mais conseguimos compreender como se parece o mundo de seu
ponto de vista; e quanto mais fazemos isso, menos provavelmente proferimos
julgamentos externos, dogmáticos, sobre ele. Para George Eliot, esse sentimento
de comunhão com o outro é a essência da moralidade. Romances podem colocar as
coisas em contexto e, dessa forma, moderar nosso impulso de julgá-las de forma
absoluta. Eles podem revelar histórias subterrâneas, ou padrões de força e
causalidade, que fazem com que as aparentes ações egoístas ou maliciosas de
homens e mulheres sejam mais compreensíveis. O papel da arte, escreve Eliot em
seu ensaio ‘A História Natural da Vida Alemã’, é aprofundar as afinidades
humanas, ‘ampliando nossa experiência e estendendo nosso contato com nossos
companheiros de humanidade além dos limites da nossa condição pessoal’.
Escrever e ler são, então, atos implicitamente políticos, que geram
solidariedade social. A ficção desperta homens e mulheres para ‘essa atenção ao
que está afastado deles... que pode ser chamado de matéria prima do sentimento
moral’. O romance, em outras palavras, é um antídoto para o egoísmo — não
apenas pelo que diz, mas pelo que faz, pela sua forma, tanto quanto pelo seu
conteúdo.
[Tradução minha]
Texto original:
The
more you understand the truth of another’s situation, the more you can grasp
how the world seems from their standpoint; and the more you do this, the less
likely you are to pass external, dogmatic judgements on them. For George Eliot,
this fellow-feeling is the very essence of morality. Novels can put things in
context, and thus temper our impulse to judge them too absolutely. They can
reveal buried histories, or hidden patterns of force and causality, which make
the apparently vicious or selfish actions of men and women more intelligible.
The role of art, Eliot writes in her essay ‘The Natural History of German
Life’, is to deepen human sympathies, ‘amplifying our experience and extending
our contact with our fellow-men beyond the bounds of our personal lot’. Writing
and reading, then, are implicitly political acts, breeding social solidarity.
Fiction stirs men and women into ‘that attention to what is apart from
themselves …which may be called the raw material of moral sentiment’. The
novel, on other words, is an antidote to egoism — not just in what it says but
in what it does, in its form as much as in its content.
Fonte: “George Eliot.” The English Novel: an Introduction, by Terry EAGLETON, 1st ed., Blackwell, 2005, pp. 164–165.
Saudades Cintilantes
Há 6 anos