Durante muito tempo me questionei sobre a necessidade que as pessoas têm de falar de si para um mundo totalmente desconhecido através desse universo fragmentado e fragmentário que é a internet.
Há pouco tempo, conversando com uma pessoa de onde trabalho, fiz um discurso sobre a minha percepção de que eu não tinha nada a dizer que valesse a pena ser publicado para tantas (ou talvez nenhuma) pessoas verem. Acho que continuo pensando assim. Mas aí dou de cara com um arquivo meio esquecido na pasta "Meus Documentos" que contém uma série de textos da época em que eu achava que tinha algo a dizer.
Não deixa de ser paradoxal que naquela época eu quisesse tanto me fazer "ouvir" e para isso acalentava o romântico sonho de publicar um livro (sim, aquele objeto retangular, de espessura variada - dependendo de quantas palavras alguém precisa para dizer o que quer - que normalmente enfeita várias estantes por aí; outras vezes, frequenta com ardor as mãos que os seguram como a um tesouro para que olhos sequiosos de seu conteúdo o absorvam por inteiro). E hoje, ou até hoje, pensava que realmente era tudo uma bobagem.
O sonho foi esquecido, a chamada "maturidade" chegou e com ela os juízos de valor, a recuperação (ou ganho de fato) da estatura real que possuo, como pessoa e como ex-projeto de escritor. Por isso, tendo o privilégio e a tristeza de ver nascer o século 21 com todas as suas prodigiosidades tecnológicas que podem me colocar diante dos olhos de um adoslescente indiano ou de uma senhora "antenada" do Zimbabwe, fiquei até agora em silêncio, usando essa máquina de escrever sofisticada apenas como uma máquina de escrever sofisticada.
Hoje, vendo minha pasta com velhos textos de um momento de ingenuidade e delírios de grandeza típicos da puberdade, dei um sorriso de canto de boca e pensei "por que não?". Eu já havia flertado com a idéia de um blogue desde o ano passado, quando criei este. Apenas o nome e depois deixei-o guardado na gaveta do esquecimento. Na hora em que a idéia marota de colocar os textos desse arquivo de velharias me veio, acabei encontrando este "Andarilho do Vento" começado, mas nunca começado de verdade. Quem sabe agora? Quem sabe nesse momento os pensamentos daquele jovem de 20 anos atrás possam, como uma estrela leva milhões de anos para chegar aqui, depois que a estrela em si já morreu, ter algum eco, alguma visibilidade? Mas saibam: aquele que escreveu essas coisas não existe mais. É outro. Menos espontâneo, menos caloroso, menos afetivo, menos arroubado, menos... jovem! Mas não menos verdadeiro.
Que o universo digitalizado e virtual os julgue.
Saudades Cintilantes
Há 6 anos